Como diz o hino: ' Campeão Absoluto deste ano'
“Esses moleques da Vila Belmiro não são tudo isso”
… Só ganharam de 1 a 0 do Naviraiense na primeira fase da Copa do Brasil. Perderam para o Guarani, em Campinas, por 3 a 2, com nove reservas. Perderam para o Atlético, no Mineirão, por 3 a 2, e para o Grêmio, de virada, no Olímpico, por 4 a 3, nos jogos de ida, nas quartas-de-final e semifinal. Na finalíssima, levaram a virada do Vitória e se transformaram no time que mais vezes foi derrotado na Copa do Brasil, desde 1989. E, parece, ainda assim, foi campeão…
“Esses moleques são insolentes!”
Onde já se viu fazer 10 a 0 no Naviraiense na primeira fase da Copa do Brasil? Em Belém, cancelar a segunda fase goleando o Remo por 4 a 0, como é que pode? Esses meninos são marrentos: ganhar de 8 a 1 do Guarani? Reverter duas derrotas para Galo e Grêmio e se classificar até com folga, no saldo, por 3 a 1, em casa? Ganhar por 2 a 0 do Vitória, na final, e ainda bater aquele pênalti que o Neymar cavou e recuou para o goleiro baiano?
Não pode. Não dá.
Mas deu.
E continua dando gosto esse Santos pela primeira vez campeão da Copa do Brasil.
Ainda o maior campeão da Taça Brasil, a mãe deste torneio. Santos pentacampeão, de 1961 a 1965.
Santos campeão absoluto daqueles anos todos de ouro do futebol brasileiro.
Santos campeão absoluto deste 2010 de chumbo da bola brasileira.
Peixe de Ganso, aquele menino enlameado no Barradão, mas que limpa os lances como se tivesse escova nas chuteiras elegantes e inteligentes. Imagem perfeita de um futebol possível. Bonito e eficiente. Prático e campeão. Que falta faz Armando Nogueira para colocar os pingos nas bolas para louvar o imenso talento desse 10 digno da Vila.
Mas ainda virão os de sempre. Essa gente que talvez não tenha entendido a fina ironia:
“Esses Meninos da Vila 3.0 são invenção da imprensa! O que esses caras já ganharam na vida? Só porque fizeram mais de 130 gols em seis meses em 2010 já se acham os tais, os netos de Pelé, os filhos de Pita, os irmãos do Robinho… Não são nada disso!”
Não, lado negro da fraqueza do Homem, eles não são nada disso.
Eles são apenas tudo de ótimo que pintou no futebol paulista, brasileiro e sul-americano. Um time que dá gosto de ver, orgulho de torcer. Uma equipe brasileiríssima na essência ousada, técnica, abusada, ofensiva. Tudo que não se viu na Copa de 2010, o Santos tem esbanjado, até exagerado, na temporada.
De tão jovem, de tão atrevido, os meninos viram moleques do jeito e da ginga com que passam pelos adversários. Fazem bobagens em campo, fazem besteiras fora dele. Mas não pecam por omissão. A missão desses meninos é resgatar o que há de arte e de arteiro no jogador brasileiro. Ele não é e não pode ser soldado. Tem de fazer as saudáveis criancices com a bola. Tem de pisar nela vez ou outra, e muitas vezes até demais. Quase perderam assim o título paulista para o ótimo Santo André. Quase não ganham a Copa do Brasil do bom Vitória. Coisas do futebol, claro. E, também, brincadeiras de meninos. Ainda não maduros. Ainda tolos. Infantis.
Mas com bola de gente grande. Com tudo aquilo que dá gosto de ver em nosso futebol. Em qualquer futebol. O Brasil é tudo isso nos campos e nos tempos muito por causa do que se faz no templo sagrado de Santos. Há algo na água da Vila. Não por acaso o E.T. Pelé pousou por lá, em 1956. Não por acaso os Meninos da Vila explodiram, em 1978. Não por acaso a segunda geração começou a encantar, em 2002. Não por acaso é a casa da versão 2010. Ainda com um recall de fábrica para alguns não tão talentosos que se acham e podem acabar se perdendo pela vida.
Só que onde joga e encanta Ganso, onde dribla e goleia Neymar, onde refaz a história Robinho, onde faz gols André, onde equilibra Marquinhos, onde marca e ataca Arouca, onde faz tudo Wesley, onde a defesa segura o tranco, é difícil ter gente se perdendo pela vida onde tudo se pode ganhar na Vila